quinta-feira, 14 de abril de 2011

Queimadura divina

Pelo terceiro olho.

Esta queimadura não pode
ser humana...
Porque não dói apenas;

também me sabe bem...

Tentámos tanto
e chegámos tão longe
(mais do que permitia

a força humana)

para depois nada mais interessar

para depois nada valer

ou ter valido a pena.

Agora, depois de meses onde
o vento e a chuva

e o céu cinzento

coloriram a cidade de Lisboa

finalmente chegou a sua merecida claridade...

Mas por muito que ainda tente

só tenho a certeza que não a vejo com clareza.

Fugi-te e deixámo-nos aguardar
na distância do silêncio e as nossas vidas

foram continuando...mas procurei-te e
encontrei-te outra vez...sinto-me ainda pior agora
que percebi que sempre foste uma parte de mim
e que eu nunca devia ter partido.
Não importam as razões...porque o medo
não deveria sufocar o sentimento.
A escurião devorou o céu
quando a lua veio trocar de lugar com o sol
e foi então que abri os lábios
quase temendo a verdade absoluta e monstruosa;
e a voz soltou-se, certa e consciente
que em duas palavras estava
a essência de batalhas e conquistas
e de libertações e o acalmar ou até o calar
de vozes interiores famintas (espirituais e físicas)
ao dizer:
Eu amo-te.

1 comentário:

Joana disse...

Amei a beleza, mas sobretudo a subtileza do sentimento. O que apreendo desta leitura é algo que antes não via aqui. É algo novo, uma nova maturidade, um novo sentimento belo que louvo e prezo e acho nobre.
Achei extremamente belo e um retrato fidedigno de Lisboa (a nossa tão linda cidade).
Sobretudo a parte a itálico mexeu comigo. Achei que foi a exaltação do sentimento há muito abandonado a um canto, sem se ter podido exprimir.

«porque o medo
não deveria sufocar o sentimento.
A escurião devorou o céu
quando a lua veio trocar de lugar com o sol»