sábado, 11 de dezembro de 2010

Hateful

"Um dia matarei todos aqueles que odeio!", gritou a rainha ao vento. O silêncio já dormia naquela terra fria há muitos anos. A solidão fazia-lhe companhia. A rainha nunca exigiu a ninguém, nem mesmo a Deus, chegar a este degrau. Foi a sentença que a vida lhe ditou: longa, dolorosa, fria...A vida está longe de ser justa. Os desígnios de Deus estão longe de ser compreendidos pelo Homem. E ali estava a rainha, só, amaldiçoando através do vento, todos aqueles que ela odiava...Mas a verdade que ficou gravada nos livros é que a rainha acabou por morrer sozinha no trono. Trespassou aquela antiga espada certeiro no próprio coração. Acabando assim por matar a única pessoa que realmente odiava...

A vida parece-me tão preciosa agora
que já não a vivo. Tento-me recordar
dela, e quando não tento sonho com ela.
Desde pequena que aprendi a amar,
a dar valor a tudo aquilo que tinha
a todos aqueles que me amavam.
Nunca me apaixonei, daquelas paixões que se
transformam em amor, no verdadeiro amor,
aquele amor que com o tempo ultrapassa o do
sangue, aquele amor que nos completa.
Dei sempre o meu melhor, em tudo.
Mas o destino, ou esse Deus estranho, levou-me
a este trono gelado. Sempre gostei de neve...Mas viver
todos estes anos nela fez-me perceber a beleza das folhas
que caiem das árvores, na sua metamorfose,
a beleza dos rios, lagos, e do mar...da areia, da terra,
das rochas, e pequenas pedras. Do sol...do calor.
Todos estes anos, onde sozinha governei o meu mundo
e o dos outros, ou pelo menos assim o pensei,
fizeram-me pensar muito...
E tentei guardar ódio a todos aqueles que me amaram
mas que nunca me procuraram...Já disse que tentei?
Mas não consegui.
Deixo aqui, gravadas estas palavras, no gelo...
As pontas dos meus dedos já se encontram em carne viva,
o meu próprio corpo já me causa repulsa e quase pena.
A minha alma já me causa repulsa. Nada mais me resta...
Que estas palavras bastem ao que se seguir a mim.
Pois tudo o que podia ter feito de errado neste mundo,
nesta vida,
já está feito...Agora resta-me esperar ser recebida no céu
com uns braços pelos menos semi abertos.
Odeio-me.

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