Essas auroras celestiais, brilhantes como
cristais, cegas de tanto brilhar,
Por entre a névoa elevam o sol,
Enchendo de luz o negro que por tanto
tempo pairou e perdurou nos recantos d'alma;
Esse remédio ao mistério do tédio que infiltrado
nas veias se iam remoendo, tal veneno sereno
matando em silêncio;
Sozinho, sem rumo ou caminho, nas três paredes
desse quarto redondo, sonhando com um poder único
de conseguir mudar um pouco mais do que nada,
Exigindo conseguir tocar um pouco mais nesses mundos
Parados, estanques, sem brisa; Desejando desfazer mitos
de quem geme timidamente sem saber, por ajuda,
Delírios de quem está ensopado em absinto;
Loucuras de um louco tão sóbrio, tão só no desassossego,
Enquanto vai coçando as cicatrizes, fumando do seu tabaco
as suas raízes, triplicando a sua atenção absorto nas crises
de um cordão umbilical que une toda uma essência de nadas,
Esses nadas que nos pertencem, que são o nosso reflexo neste mundo,
Surdo, mudo, de gestos gastos;
e os versos aguentam firme, por uma fome
menos cansada de morrer, por um novo alento
menos morto, menos lento, um ritmo que move,
Que alerte, que comove, que no fim de contas,
ultrapasse um ligação carnal e sentimental
vazia de explicações, além terra, além sonhos,
Que seja a leitura real do que nos rodeia.