Dão catorze horas num relógio que está parado,
Encostado a uma parede, impacientemente comovido,
Aguarda que a fraqueza do Homem
num acto de rara misericórdia
consiga finalmente destrui-lo.
Adormecidamente, nessa união entre o raro
e o básico, do abstracto ao concreto,
Acorda e adormece, por um lado ainda morto
por outro: ainda vivo.
Quebrado, já em peças partido,
Aguarda, aguarda mais um pouco
- E o tempo perdido?
Pela hora de ser reconstruído.
Finge-se quieto, tal caçador furtivo,
Inteligente, paciente, num processo de silêncio
protegido...A destruição da alma
é inevitável, tal queimadura profunda
não será esquecida...Tal gelo esculpido
a frio não será esquecido.
( Perde-se. Perde-se mesmo contornando as regras,
Mãos seguram os mecanismos
Como se ressuscitassem um coração...
Aguenta...para que não seja em vão,
Aniquila para que possas renascer. )
O terror da luz sobressai, nessas nuvens negras
que vigiam o céu com olhar atento,
Na espera da esperança morre o sonho,
No avanço do sentimento dá-se a emboscada da razão,
Bate o relógio, mas já bate partido,
E o seu bater não passa de um gemido,
Criado para contar o tempo,
Mas que como nós e por nós já foi esquecido.
( imagem d'a persistência da memória , por S. Dali )
2 comentários:
Estimado Diogo, cada vez que postas um texto é de todo com muito agrado que o leio... Sinceramente, não consigo deixar de vir deixar o meu comentário à Tua enorme criatividade/expressão... abraço Fraterno.
João, olá! Tenho stado a acompanhar como sempre o teu blog, não tenho é comentado. Obrigado pelo feedback constante, ainda bem que consigo causar algum tipo de impacto nas pessoas. Forte abraço
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