sexta-feira, 20 de abril de 2012
Cognitive
ali chegou, pouco tempo depois
de ter terminado uma pequena farsa,
apesar de toda a raça humana ser feita de fraca matéria
é feita de fraquezas bem diferentes.
Ali onde a chuva deixou um rastro fresco,
agora pisado por tantos que dali não eram.
Mas o movimento e a luz citadina afugentam
a claridade e o mexer dos astros,
no ali, no algures,
no vazio do conhecido. Por isso
Subiu a rua, a perfeita rua da qual
nunca se pode cansar, porque não consegue,
caminhando sobre as pedras da calçada
na sombra da escuridão,
sem forçar mais do que o suficiente
a razão da procura, ou a pergunta
que perdura sem resposta.
o Deus é silencioso, respira
no respirar das gentes, e afasta
a impotência perante os outros
através de sinais que não existem,
é um Deus que não dorme.
Tomada pela realidade daquele momento
prefere parar. Será a vida assim tão complicada,
ou serão as pessoas assim tão pouco simples?
E a resposta está guardada...vai sangrando,
ao longe, ali, no algures,
sem entendimento, sem consciência,
tão só, ... até que o melhor caçador
corra e salte ao primeiro sinal
do cheiro do sangue da presa.
Depois do ataque tudo continuou igual,
ela sozinha, e a dor, ou a sensação mais próxima
e semelhante, à procura do que está tão perto.
sábado, 14 de abril de 2012
A reviravolta do Certo
I want to tell you so,
before the sun goes dark..
só a mais pura criança
pode de facto matar a sangue frio
para depois mandar ao rio
a restante esperança.
tudo gira à volta da procura do significado,
depois do segredo ser destrancado
o sorriso do fado é ignorado.
Neste estado de inconsciência sentimental
onde a insanidade representa
um estado de alma estabilizado,
já pouco ou nada interessa o que está melhor
ou o que está mal;
a sentença é aceitar que esta inconveniência
chamada a vida que se tem
é a verdade, e que a é com toda a certeza.
Guardem a certeza que me foi tirada,
guardem-na bem guardada..
Mesmo já não estando nas minhas mãos
continua certa - o fardo e a leveza
são sempre um peso ingrato.
neste lugar não existe memória
do que ainda cá está, sempre assim foi,
será assim sempre. Olhas o monstro,
enquanto ele decide se morre
se vive, enquanto outro monstro
aceita ou nega o fogo que luta por prevalecer,
E é isto, envergonhado segredo aceite
agora que é verdade,
antes que o sol se torne negro,
só é preciso dizer, depois fazer,
ou vice versa, ou juntamente,
ou de outra maneira qualquer,
e quem sabe até
se dê a reviravolta do que era dado como Certo.
(SB - Hold my heart)
domingo, 8 de abril de 2012
a Distância dos heterónimos
Tudo o que narro são mentiras
e são verdades.
Porque tudo o resto não interessa.
Tão pouco as mentiras
com o seu grande corpo de verdade.
é quase concreta esta força da fantasia..
Mas ao inspirar, ao inspirar realmente,
este é um perfume que já não existe,
é como tentar, por entre as árvores, sentir
a maresia longínqua. Abrir os olhos, sonhar,
fechar os olhos, morrer.
escolher não ver é tão grave como
fugir sem certeza de mais tarde voltar.
A cada passo dado na negação
mais sonora é a gargalha do diabo,
entrego-me a este vento, a outra vontade
qualquer - que não a minha,
como dados aleatórios numa mão.
azar e sorte presos na mesma matéria que oscila,
alguns são os escolhidos, eu escolhi escolher.
sem probabilidades, sem razão aparente de se ser,
quase tudo espalhado pelo chão, outros versos
amontoados, mais pedra do que areia,
queimaduras, e toda a falta de exactidão.
neste ódio que tudo abrange,
da mesma forma que o amor
se agarra à carne junta aos ossos
que a realidade deixou,
respiro frio, é frio que respiro
desejando acabar com a pior escolha
que pode ser feita:
forçar uma verdade a transformar-se
numa mentira.
Tudo o que narro são mentiras
e são verdades. Nunca me esquecerei,
pois quando me esquecer
é porque morri.
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