quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

confissão moldada


o Homem entrou no momento certo,
de olhos no chão, não fingindo interesse
pela carne ou pelo bem material...
Humildemente, por vontade própria,
entrou, e confessou..

O anoitecer da alma chega,
traz com ela o receio da destruição interior
é um duelo sem trégua à vista
onde cada movimento acaba
em solução sinistra.
Está tudo disperso.
o terror invadiu cada partícula
do físico ao escondido intocável.
O arrependimento ou a dor
a fome num alimento envenenado.

Só, confiante na tristeza, na incerteza
dos passos que não são dados
com clareza - vontades e saudades
são como suores frios
palavras e gestos são
preenchimentos vazios.

o Homem saiu no momento certo,
de olhos no chão, com uma fome imensa
por carne - o rasgar, o tocar, o saciar;
um desejo por alcançar tudo o que se pode
e também pelo que não se deve desejar.
A humildade foi deixada para trás,
saiu por obrigação, jurando nunca mais voltar.
A falsa paz terminou, esta é a guerra verdadeira,
a única que o satisfaz. Solto das amarras,
solto dos sentimentos dos quais é capaz,
Viverá para sempre, agora consciente de que sempre foi

um monstro.
 

1 comentário:

Joana disse...

Este texto causou tal impacto em mim que tive de parar por momentos para ponderar sobre ele; fiquei ligeiramente sem palavras para falar sobre o que li.

Às vezes a luta interior persiste durante muito tempo, e quando menos esperamos, um dos lados ganha finalmente e podemos abraçar o que somos e o que sempre fomos, embora tivessemos passado algum tempo a tentar negar a verdadeira essência...Adorei, sobretudo a constatação final da verdade, tão sóbria e calma que nos transmite a resignação de ser.

«um desejo por alcançar tudo o que se pode/ e também pelo que não se deve desejar.» Perfeito ! *