quarta-feira, 30 de março de 2011

As fases de uma face

Pelo terceiro olho

A face da estabilidade escondeu-se,
e sorri-me de olhos bem abertos
a face de uma loucura aproximadamente destrutiva.
Julguei por breves minutos
(no tempo longo da vida)
ter vislumbrado uma face com três olhos.
E haverá melhor certeza que o nosso
julgamento sincero e total? Como se o sentimento
valesse tudo neste mundo,
tentando colorir tudo isto de amor e ódio
desespero e desprezo?
Como é possível duas pessoas terem as mesmas
certezas, as mesmas sensações, o mesmo objectivo
mas agirem de maneira tão diferente?

Vi o teu rosto...num rosto desconhecido,
e olhei tanto tempo para ele,
pensando em todas semelhanças...mas não eras tu.
E todos os dias, algures em mim
algures nos outros
vejo-te. Umas vezes mais próxima, outras, talvez
mais reais: distante.
Quem odeia tem o caminho aberto para criar mais,
o sofrimento guia-nos em diferentes fases da mesma face,
mas quem ama...quem ama rodopia numa espiral,
e de forma assustada teme-se continuar a cair sem parar
da mesma forma que se teme cair finalmente no chão.
E este sorriso pobre
ou esta lágrima pouco preenchida
dizem-me por outras palavras
e outros actos
que a minha sentença
nestes sentimenos e nestas fases
é sentir em mim, e para sempre, a tua presença,
Sinto-o quando respiro, e quando olho o mundo...
e mesmo quando o olho com outros olhos.

1 comentário:

Joana disse...

Já tinha lido a "cegueira escolhida" e dirigi-me ao teu blog com o intuito de comentar esse texto magnífico, mas de súbito fiquei estática. Fiquei imóvel e sem respirar li "As fases de uma face". O sentimento de não respirar prolongou-se. E o desejo de querer comentar o texto anterior dissipou-se temporariamente. Pensei para mim "como posso eu comentar outra coisa além deste texto? Como posso eu dar primazia a outra coisa para além deste verdadeiro poema (no mais puro significado da palavra poema)".
E assim foi. Li-o e reli-o. Fez tanto sentido que o meu coração saltou uma batida. As peças encaixaram tanto que não por momentos deixei de acreditar em tudo.
Está fantástico, está belo, com um óptimo ritmo, com uma óptima força, e melhor de tudo, com uma mensagem que ultrapassa os limites do genuíno. Foi isso que senti: que foi simplesmente tão belo que perdi o fôlego. Obrigada (:

«e de forma assustada teme-se continuar a cair sem parar
da mesma forma que se teme cair finalmente no chão»