Lembro-me como se fosse hoje.
Chegaste ao pé mim e disseste:
A elevação e sabedoria atingem-se através
do sofrimento e do choro.
Na altura ignorei-te. Estava demasiadamente
abismado com a minha cegueira, com a minha
arrogância. Julguei-me um deus qualquer.
E pedi que te calasses...Nada do que poderias
dizer me fazia qualquer sentido.
E foi então que tu te calaste.
Fez-se um silêncio na minha vida que me deixou
tão sossegado. Ai o silêncio. Veio. E veio
por muito tempo.
E mais tarde voltaste, com outra cara, outras filosofias.
Mas desta vez soube aproveitar-te. A minha arrogância
morreu...foi trocado por humildade.
E eu, finalmente estava pronto.
Estaria?
Não sei mas desta vez ouvi-te.
Disseste que é preciso perdermos, roçar a porcaria
tocar no lodo
respirar e cair no lodo,
para depois nos sentimos prontos para elevar,
sair dele,
voltar a viver e a sonhar.
Não és mestre, nem eu discípulo, mas juntos
aprendemos, e junto ensinamos.
Hoje ouvi-te. E tu pouco ou nada disseste
mas esse pouco ou nada foi muito para mim.
Entrou-me, mudou-me.
Olhas-me e dizes que estou pronto para voar
voar longe de Ícaro.
Eu tenho medo.
Mas o medo nunca me impediu de viver.
É então que ponho em dúvida várias certezas tuas.
É então que percebo que ainda não posso voar.
É altura apenas de soltar as asas,
mas soltar as asas de forma muito lenta
como se não tivesse vontade...
Tu não gostas dos meus gestos.
Tu não me apoias,
não me compreendes.
Quando dou por mim partiste,
e desta vez não foi pela minha ganância
nem arrogância.
Mais tarde voltas. Como se eu não soubesse.
Como se eu me importasse.
Perguntas-me se já comecei a voar. Dizes
que já é tempo, aliás atacas dizendo que já
se faz tarde...
Começo a temer-te. O que queres desta vez?
Mas tu sorris...dizes que é preciso perder tudo
para podermos ter tudo outra vez.
E aí percebo-te. E sinto-me livre, e até mesmo feliz.
Não me sinto completo, mas sinto-me feliz.
Agora, dizes-me, só te falta o H.
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